sábado, 4 de março de 2017

Freaks and Geeks: A melhor série jovem de todos os tempos




Há pouco mais de 15 anos estreava na TV o seriado “Freaks and Geeks” no Brasil ganhou o titulo de ABORRECENTES.

Talvez você já tenha visto ou pelo menos ouvido falar a respeito. Se a resposta for não para ambas as opções, isso é totalmente justificável. A produção durou apenas 18 episódios, transmitidos nas noites de sábado entre 1999 e 2000 pela emissora americana NBC, e foi exibida brevemente no Brasil no canal pago Multishow. E por um desses acidentes do destino que normalmente ocorrem em um cruel universo movido a números de audiência, o programa foi cancelado antes mesmo do final da primeira temporada.

Hoje é estranho pensar que uma série tão estrelada foi interrompida por falta de um público cativo. “Freaks and Geeks” é um verdadeiro “quem é quem” da comédia holywoodiana recente, a começar por seu produtor executivo, Judd Apatow, responsável por algumas das principais bilheterias do gênero nos últimos dez anos – “Ligeiramente Grávidos”, “Segurando as Pontas”, “O Virgem de 40 Anos”, “Superbad” e tantos outros carregam a assinatura característica dele (hoje, ele também é o produtor do sucesso “Girls”, de Lena Dunhan). Já o elenco principal trazia os ainda desconhecidos James Franco, Seth Rogen e Jason Segel, todos hoje bem sucedidos, onipresentes nas telas e com um punhado de filmes de Apatow no currículo. Paul Feig, ator, roteirista e idealizador da série, também fazia ali sua estreia nos bastidores televisivos. Mais tarde ele dirigiu episódios de “The Office” e “Arrested Development” e atualmente está produzindo a adaptação de “Peanuts” (Snoopy e Charlie Brown) para o cinema.

Foi uma combinação perfeita e que hoje em dia até parece infalível. Apatow precisava desesperadamente emplacar uma série. Feig tinha o enredo pronto de uma narrativa baseada nos fatos de sua adolescência suburbana no início dos anos 1980. Juntos, reuniram um elenco promissor e produziram episódios com forte apelo comportamental, que versavam sobre sexo, drogas, relacionamentos, costumes e inadequação, tudo permeado pelo espírito rock & roll que ainda resistia da década anterior. A sequência de abertura, embalada por “Bad Reputation” de Joan Jett, já dava pistas do que estava por vir. As atuações são irretocáveis, mas é na história e na ousadia com que abordava os temas que “Freaks…” se diferenciava de outros produtos para o público jovem.


Em se tratando de seriados televisivos, nenhum discutiu os percalços da adolescência de modo tão corajoso e descompromissado, lidando bem com clichês e estereótipos e sem apelar para a risada fácil. Como muito bem definiu o leitor @luiz_young, imagine algo bem no meio do caminho entre “Anos Incríveis” e “How I Met Your Mother”. Está muito claro que “F&G” não era uma série de humor, mas também não é possível chamá-la de drama. A história conta a rotina de dois grupos de jovens em Chippewa, cidade minúscula e fictícia próxima a Detroit. Os freaks eram os chapados e arruaceiros que matavam aula para fumar, encher a cara e vadiar. Os geeks eram os nerds desengonçados que tinham problemas em lidar com a pressão de crescer e aparecer em público. No meio dos dois lados está a personagem de Linda Cardellini, Lindsay, que se esforçava para ser aceita pela turma do fundão mas não conseguia esconder a faceta CDF.

“Freaks and Geeks” estreou em 25 de setembro de 1999, e os derradeiros episódios foram transmitidos em outubro do ano seguinte. A produção foi encerrada mesmo sendo um sucesso de crítica (chegou a ganhar o prêmio Emmy de melhor elenco e foi indicado por duas vezes a melhor roteiro), muito porque nunca conseguiu manter um público volumoso e fiel. O culto dos fãs órfãos se manteve ativo nos últimos 15 anos, sustentado por reprises, a disponibilidade no Netflix (nos EUA) e relançamentos em DVD e Bluray (o YouTube traz a maioria dos episódios na íntegra). Ao longo dos anos, os atores e produtores têm demonstrado orgulho do trabalho e até tentam explicar o fracasso. Críticos que aplaudem a série são unânimes em considerá-la injustiçada e à frente de seu tempo. E ainda há quem não se conforme com o fim abrupto – não só entre os fãs, mas também no elenco.


Há alguns dias, Seth Rogen, que fazia o “freak” Ken Miller, declarou que havia enfim encontrado e confrontado a pessoa responsável pelo cancelamento de “Freaks and Geeks”. No dia seguinte, o ator de “Segurando as Pontas” deu uma entrevista na qual relatou que o tal executivo da NBC tentou justificar a decisão, alegando que “Judd [Apatow] não escutava meus comentários” e que via como um problema o fato de os protagonistas sempre se darem mal.


Garth Ancier, o executivo em questão, acabou se pronunciando no Facebook após o primeiro comentário de Rogen. “Como eu falei, meu único comentário para Judd Apatow sobre a série era que tanto os freaks e/ou os geeks deveriam vencer os garotos cool – especialmente porque Apatow tem seguido esse conselho em todos os filmes de sucesso que fez depois”, escreveu. Ele acrescentou que “absolutamente odiou cancelar este programa. Era claro desde o começo que 'F&G' tinha um ótimo texto de Judd e Paul Feig e um elenco incrível. Foi uma decisão horrível que tem me atormentado para sempre… Mas era o programa menos assistido da emissora.”


Mais tarde, Ancier escreveu mais um post, dessa vez reclamando da reação de Rogen na entrevista: “Novamente, peço desculpas aos caras muito talentosos que fizeram essa série tão divertida de se assistir. Na minha próxima vida eu irei revivê-la na TV a cabo!” E assim, de um jeito agridoce, encerra-se definitivamente o assunto “Freaks and Geeks” na grande mídia – pelo menos até a série completar 20 anos. O culto dos fãs devotos, porém, tem tudo para seguir firme.